Rodrigo César Souza de Macedo, batizado na arte de Rodrigo Bico, tem 27 anos e será o novo titular da Fundação José Augusto. Foto: Luan Xavier |
O ator Rodrigo Bico teve receio de aceitar um maior papel em sua ainda iniciante carreira política: o de secretário estadual de Cultura - cargo que ainda sequer existe. E não faltou quem o desaconselhasse a entrar no barco do governo Robinson Faria, a fim evitar qualquer tipo de risco que o “queimasse” ante as eleições para a Câmara Municipal marcadas para daqui a dois anos. Militante, todavia, não conseguiu declinar ao convite do Partido dos Trabalhadores e, agora, se impõe a meta de fazer o povo potiguar criar identidade com sua própria cultura.
Rodrigo César Souza de Macedo, batizado na arte de Rodrigo Bico, tem 27 anos e um histórico de militância na cultura local. Foi isso, aliás, que o levou para a carreira política. Com 1.964 votos na eleição realizada em 2012, ficou como suplente de vereador, perdendo para o companheiro de partido Hugo Manso por uma diferença de 270 votos.
Aliás, nos corredores do diretório estadual do Partido dos Trabalhadores, sua morada política, é dito como verdade que sua não vitória aconteceu por causa do “fogo amigo” dentro do próprio partido, já que algumas lideranças não lhe renderam apoio durante a campanha.
Responder pela Fundação José Augusto, pasta que gere a Cultura no âmbito estadual, é o maior desafio da carreira política de Bico, mais jovem secretário do governo Robinson Faria.
“Muita gente acreditava que aceitar um cargo numa pasta que não tinha orçamento definido e que de repente poderia não ser prioridade no governo seria um risco, e que eu deveria destinar esse tempo para preparar a campanha para vereador em 2016. Mas sou um militante da cultura e não poderia recusar o convite do partido e deixar passar a chance de poder tentar mudar as políticas públicas para essa área no âmbito estadual, que é uma luta antiga nossa”, diz Rodrigo Bico.
Ele é o ícone de um processo de mudança na cultura estadual, iniciado pelo próprio governador Robinson Faria, que decidiu extinguir a Secretaria Extraordinária de Cultura para criar uma pasta definitiva já no primeiro ano de gestão.
“Enquanto militante eu sempre critiquei esse modelo de secretaria extraordinária, que era apenas um cargo. Toda a operação era feita através da Fundação José Augusto. Então, a primeira ação do governador foi me nomear para a FJA, sem indicar secretário extraordinário, para, a partir daí, criar a secretaria estadual de Cultura”, confirma.
Até lá, sua ideia é alinhar todos os marcos legais para o fortalecimento de políticas públicas direcionadas à cultura, além de lutar para que a pasta tenha protagonismo e seja encarada como prioridade.
“O orçamento hoje é o grande problema – para qualquer área, na verdade. Na Cultura é preciso ter orçamento para que as ações aconteçam. Vamos lutar para tentar garantir até 1,5% do orçamento do Estado para a Cultura”, diz.
Com sua equipe ainda em formação, Rodrigo Bico não esconde o desconforto ao comentar sobre a indicação do jornalista Toinho Silveira para a gestão do Teatro Alberto Maranhão. Ele sofreu críticas de apoiadores, que lembravam da promessa do governador Robinson Faria de indicar apenas técnicos capacitados para a gerência de cada pasta. “A FJA responde pelo TAM e temos um plano de atuação lá. Vamos conversar e mostrar a ele que pretendemos usar o espaço para a movimentação cultural, devolvendo o prestígio que o Alberto Maranhão tinha antes da inauguração do Teatro Riachuelo”, afirmou Rodrigo Bico.
Modelo alternativo ao municipal
O novo gestor da Cultura do Rio Grande do Norte não acredita na eficácia do modelo político adotada na pasta municipal, por exemplo – apesar de reconhecer os avanços da Funcarte, principalmente em sua política de editais públicos.
A ideia de Rodrigo Bico é preterir os grandes eventos para dar vez à produção cultural perene.
“Hoje a Funcarte tem uma política, que é de característica dos atuais gestores, muito voltada para o evento, para as festas – o que até determinado ponto é importante para a população, que vai, se agrada, se diverte. Só que existe uma coisa muito esquizofrênica no sentido de acabar uma ação e já começar outra. Tem um encaixe de eventos que às vezes afogam a necessidade daquela entidade, que é fazer política cultural. O evento é legal, mas é uma ação que passa. Muitas vezes o artista local acaba tendo pouca visibilidade nesses eventos, onde se dá uma atenção muito grande aos artistas nacionais”, comenta.
Sua ideia é protagonizar a valorização prática da cultura local, a começar por seus personagens.
“Vamos tentar criar uma identificação do povo com a arte que é produzida por ele. Eu vejo que hoje há um grande afastamento. O povo potiguar tem uma grande identificação com as coisas que vêm de fora. O poder público precisa colocar o artista potiguar num lugar de paridade ”, acredita.
Em suma, sua ideia é avaliar se não é mais negócio trocar um grande evento pontual por um calendário anual de intervenções artísticas populares, por exemplo.
“Não que a gente não vá fazer eventos e ações culturais pontuais, mas eu penso que o evento tem de estar diretamente atrelado à formação; tem que deixar de ser eventual para deixar ações consolidadas”, diz.
O Agosto da Alegria, iniciativa do governo Rosalba Ciarlini, é exemplo disso, para ele.
“As pessoas sentem falta porque não têm outro modelo. Nesse, estava claro que se não tivesse um aporte financeiro grande, tendia para o fracasso – tanto é que em 2014 não teve e no ano anterior já havia sido minguado, bem diferente dos primeiros anos. O Agosto da Alegria era o exemplo de verba que existia para festa, mas que não existia para valorização cultural da cidade”, diz.
Parcerias para espaços públicos
Rodrigo Bico fez parte da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura, quando tinha ainda 23 anos. Agora, ele quer fortalecer essa iniciativa no Rio Grande do Norte, apelando para o alinhamento entre os governos estadual e federal para tentar trazer mais espaços para o estado.
“A gente tem uma ideia de democratização do acesso à cultura, que ela chegue nos mais diversos locais do Rio Grande do Norte”, diz.
Além dos Pontos de Cultura, iniciativa do governo federal, ele pretende ainda otimizar as Casas de Cultura, projeto estadual, criado na gestão Vilma de Faria.
Ao contrário dos Pontos, as Casas de Cultura são apenas espaços destinados ao movimento cultural. Segundo Bico, é preciso fomentar a prática e a produção cultural nesses locais e, para isso, uma ideia é criar conselhos de cultura.
Eles teriam a missão de transitar entre o poder Executivo, as lideranças e os movimentos culturais para, a partir de um diálogo sobre as necessidades de cada localidade, tentar atrair recursos necessários para o fomento da atividade.
“A ideia é ter mais participação popular nas tomadas de decisão na Fundação José Augusto, com um diálogo constante para colocar em prática o que for em comum entre o que a sociedade anseia e o que o poder público pode executar”, diz.
Os grandes espaços, como a Biblioteca Câmara Cascudo, o Museu Café Filho e a Pinacoteca, também são motivo de preocupação do novo titular da FJA. Sua ideia é conseguir parceiros para fazer com que esses espaços sejam entregues novamente à população com condições de atrair atividades.
“Vamos tentar parcerias com as estatais, os bancos, a UFRN, o IFRN e todas as instituições que tenham interesse em revitalizar esses espaços. A Pinacoteca hoje, por exemplo, não tem condições de receber uma exposição nacional por causa da questão da climatização, entre outras pequenas coisas. É preciso dar condições para que esses espaços funcionem plenamente”, diz.
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